domingo, 22 de setembro de 2013

AS PERSONAGENS RECORRENTES DE MARISA ORTH


Marisa Orth é uma ótima atriz! Infelizmente sua versatilidade não é tão explorada na tv. Sempre em papéis essencialmente engraçados, poucas vezes se viu Marisa explorando sua veia dramática na telinha Global, aliás é notório que grandes humoristas, em sua maioria, fazem drama muito bem, falta à Marisa apenas uma oportunidade para confirmar seu grande talento como atriz em um papel sério. Enquanto isso não acontece assistimos Marisa sempre arrasando em papéis cômicos até que bem diferentes dentro de sua principal característica, que é o humor, seja em seriados como Sai de Baixo, SOS Emergência e Macho Man como em novelas. É neste último gênero, porém, que vemos os autores dando a La Orth de tempos em tempos, personagens com perfis psicológicos muito parecidos.

Foi fuçando alguns vídeos antigos no you tube da esquecida novela Bang Bang (2005) e assistindo capítulos recentes de Rainha da Sucata (1990) no canal Viva que pude comparar as semelhanças com o atual trabalho de Marisa Orth em Sangue Bom (2013). Reparem:

Na trama das sete Marisa vive Damáris, uma mulher aparentemente religiosa, defensora da moral e dos bons costumes, que não se conforma em ser divorciada do marido. Não é feliz e não quer que ninguém seja, com isso sai feito louca julgando e condenando à todos, tachando de pecadores e pervertidos os que vivem sem hipocrisia nem preconceito. Reprimida por não ter coragem de viver tudo o que realmente deseja, ela cria um alter-ego, Gladys, a sirigaita do Cabuçu, mulher sensual, sexual, abusada e desbocada, que fala e faz tudo que ela gostaria de fazer, mas como Damáris não tem coragem. Gladys realiza todos os seus desejos, põe uma peruca, um vestido curto e apertado e sai por aí dançando funk, transando com quem tem vontade e dizendo tudo o que pensa. Quando questionada sobre seu comportamento vulgar, Damáris afirma ser Gladys sua irmã gêmea, há os que acreditam e os que pensam ser um profundo caso de dupla personalidade. Marisa se esbalda arrancando gargalhadas do público com essas duas personagens hilárias que na verdade são a mesma pessoa, provando que é de fato uma excelente atriz, pois dentro de um mesmo contexto que é o da comédia, ela consegue deixar as duas personagens completamente diferentes. 

Acontece, que lá pelos idos de 1990 em sua primeira novela, Marisa Orth encarnou Nicinha, personagem de grande sucesso que a revelou para o Brasil. A novela era Rainha da Sucata de Sílvio de Abreu e a personagem era uma professora virgem, moralista, noiva, que só vivia em função do casamento e do noivo. Quando este começou a traí-la com uma gostosona e desistiu do casório, Nicinha resolve se transformar, vira uma devoradora de homens e torna-se a biscate do bairro, traçando o elenco masculino quase todo e fazendo o público morrer de rir.

Mas não para por aí, confirmando que os autores adoram escalá-la para papéis com este tipo de dubiedade, teve também a beata carolíssima do velho-Oeste, Úrsula, do faroeste das sete Bang Bang de 2005. Úrsula era uma beata encruada, mal-humorada, que se vestia de preto dos pés à cabeça, infernizava a vida do marido, das filhas e de todos à sua volta, até que pra mudar os rumos da novela e tentar atrair mais audiência ela se despe das vestes pretas põe um corpete e vira a dona do bordel da cidade.

Analisando esses três trabalhos de Marisa Orth achei curiosa a coincidência e decidi registrá-la aqui, afinal são novelas com um espaço de tempo relativamente comprido entre uma e outra e por esse motivo muitos não deviam saber ou nem lembrar, já que o currículo dessa ótima atriz é extenso e diversificado. E já que ela é tão boa e apesar desse tipo de papel lhe cair como uma luva, torço pra que tenha novos e diferentes desafios pela frente. Damáris já pode fechar o ciclo de personagens sexualmente reprimidas que se libertam no decorrer da trama, com chave de ouro, porque o quarto papel parecido já é falta de imaginação, além de limitar demais o imenso talento de Marisa Orth.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

AINDA SOBRE O QUE VOCÊ ME FAZ SENTIR





Não é amor, é uma saudade!

Não é amor, é uma lembrança!

Não é amor, é o seu perfume rondando meu ar!

Não é amor, é uma ilusão!

Não é amor, é uma ferida aberta!

Não é amor, é uma inspiração!

Não é amor, é sua tez leitosa, sua barba por fazer...

Não é amor, são as estrelas brilhando mais intensamente e a lua me convidando pra dançar!

Não é amor, é um desejo!

Não é amor, é letra de tema de novela!

Não é amor, é uma idealização!

Não é amor, é orgulho ferido!

Não é amor, é um devaneio!

Não é amor, é uma coisa assim, que corre por fora, entra lá e volta, sem sair...

Não é amor, é um arrepio!

Não é amor, é não conseguir esquecer!

Não é amor, é um sonho!

Não é amor, é uma esperança!

Não é amor, é um refrão que aquece o peito!

Não é amor, é uma fantasia! 

Não é amor, é uma teimosia, uma insistência!

Não é amor, é um vazio!

Não é amor, é roteiro de comédia romântica!

Não é amor, é uma melancolia!

Não é amor, é a dor de uma rejeição!

Não é amor, é um copo cheio e um vazio!

Não é amor, é seu sorriso perfeito cristalizado em minha memória!

Não é amor, é um nó na garganta!
 
Não é amor, é você segurando minha mão!

Não é amor, é um abandono!

Não é amor, é só uma lágrima que seca sozinha...

Não é amor, é só um sentimento não correspondido, uma indiferença que deveria apagar esse sentimento que não existe, mas não apaga!

Não é amor é um desespero dilacerante, uma inconformidade pela constatação de que só não é amor porque você não quis! 

domingo, 1 de setembro de 2013

SEREIA






Fred era o macho-alfa da turma. Olhos azuis, cabelos negros, boca carnuda, todo marombado. Garanhão, pegava todas e não se apegava a nenhuma. No auge de seus 27 anos, com um escritório próprio de advocacia recém aberto, cada vez mais clientes na agenda e a grana entrando solta, ele queria mais era curtir a vida com todas as mulheres que pudesse ter (e ele podia ter muitas), badalar nas praias mais bombadas do mundo, encher a cara com os amigos (meia duzia de playboys tão babacas e machistas quanto ele) e zoar muito. E, talvez lá pelos 40 ele começasse a se preocupar em arranjar uma mulher decente pra casar e formar uma família, que lhe desse o status necessário que todo grande advogado necessita.

Fred ria na cara das garotas que diziam que um dia ele encontraria uma mulher que o faria rastejar e sofrer feito um cachorro sarnento, cada vez que dispensava uma, depois de algumas semanas de pegação. Ele tinha toda a segurança do mundo de que não havia mulher na terra que o fizesse perder a cabeça ou que resistisse ao seu poder de sedução, nunca havia sido rejeitado por nenhuma e isso lhe dava uma tremenda auto-confiança.

Eis que surge Morgana. Foi num karaokê na Liberdade que Fred conheceu sua sereia. Na companhia dos amigos, os garotões estavam a fim de variar o cardápio e pegar umas orientais. Em busca das gueixas, escolheram um dos mais badalados recintos da região. Atendidos como reis por belas morenas de olhos puxados, Fred e sua patota se embriagavam com os mais variados tipos de bebida alcoólica, de saquê a champanhe de tudo rolou. Eles riam, falavam alto, faziam gracinhas, tentavam cantar, sempre demonstrando uma necessidade absurda de serem o centro das atenções.

A algazarra parou quando a deslumbrante Morgana subiu ao palco e soltou a voz macia e rouca ao som de Folhetim.

"Se acaso me quiseres sou dessas mulheres que só dizem sim..."

Embasbacado, Fred não conseguia mais falar. Paralisou e fixou os olhos em Morgana. Sua beleza exuberante e a música provocante embeveceu-o, parecia o verdadeiro canto de sereia.  

Morgana era um mulherão de parar o trânsito. Por mais clones de "capas de Playboy" que Fred já tivesse pegado, nada era como Morgana. Seios fartos, curvas perfeitas, cabelos castanhos com mechas loiras douradas, onduladas e longas emolduravam um rosto de felina com olhos negros de bambi. Morgana tinha uma sensualidade agressiva e doce ao mesmo tempo. Tudo nela desnorteava Fred.

Em contra-partida, Fred era tudo que Morgana detestava num homem. 

No início Fred tentou tratar sua sereia como todas as outras, mas se deu mal. Morgana o desprezou solenemente. Mas deu seu número de telefone. Por uma semana Fred tentou ligar insistentemente, mas não conseguiu falar, Morgana não atendia. 

Passados os dias que a sereia julgava necessário para deixar o garanhão louquinho, ela finalmente o atendeu. Marcaram um encontro, numa confeitaria chique da cidade. Morgana era moça difícil, jamais se exporia à Fred em lugares propícios ao ataque. Comeram uma quiche de alho poró acompanhados de um bordeaux. Morgana contou de sua vida difícil de batalhas, que já havia sofrido muito e não era mulher pra brincadeiras. Fred atento a sua estonteante beleza, fingia prestar atenção. Enquanto Morgana falava, a única coisa que passava em sua mente eram flashes dele a possuindo em uma cama redonda. Sua mente pervertida não parava nem por um segundo.

Já no carro, em frente a portaria do prédio simples onde Morgana morava no centro, Fred tentou beijá-la, repelido insistiu. Morgana foi firme e disse não, mal deixava que ele a tocasse. Usando sua melhor cara de cachorro abandonado pediu pra subir com sua sereia, Morgana redarguiu. Disse que um dia o convidaria pra um café, mas ainda não era o momento. Despediu-se e saiu do carro.

Pela janela do carro Fred olhou com desprezo o prédinho xexelento e se foi rumo ao seu belo duplex em Moema. Pensou: como uma mulher tão incrível podia morar num lugar sem um pingo de charme como aquele! Investiria mais uns dois ou três encontros e se a transa fosse boa até daria uma ajudinha pra ela sair daquela porcaria de lugar. Conhecia bem o tipinho, se fazia de difícil pra valorizar o passe. Já tinha pego várias assim, mas nenhuma era como Morgana, ela tinha algo que o fascinava, o tirava do prumo.

No terceiro encontro Morgana deixou que Fred a beijasse. E foi nesse beijo que a sempre reticente Morgana começou a se entregar aos encantos do rapaz, pois Fred a beijou com tanto fogo e desejo, que estremeceu suas estruturas sempre tão firmes. E Fred também ficou tremendamente mexido com o beijo da moça, era completamente diferente de tudo que ele já tinha sentido. 

Existia um jogo muito claro entre os dois, que ambos fingiam não perceber, onde Morgana bancava a difícil para transformar o histórico mulherengo e cafajeste de Fred em coisa do passado e ele entrava no jogo até levá-la pra cama e jogá-la fora depois. A pergunta era: quem suportaria mais tempo?

No quinto encontro Morgana se entregou à uns amassos mais fortes, deixou que Fred tocasse seus seios, mas não deixou que suas mãos descessem abaixo do umbigo, mas acariciou seu pau.

No sexto encontro, Morgana o convidou pra um café e no apartamento xexelento apresentou seu filho de 5 anos. Fred quase engasgou com a bebida tamanha surpresa, mas simpatizou com o garotinho de pele morena tão diferente da mãe. E mais do que desejar Morgana, naquele momento passou a admirá-la como pessoa.

Morgana e Fred já se viam há um mês e ainda não haviam transado. Ela ainda não tinha confiança suficiente nele e ele achava que ainda valia à pena esperar. Ela queria que ele desistisse provando assim que era um canalha, ele queria que ela cedesse provando assim que era tudo o que ele esperava, talvez a mulher que ele imaginava encontrar só aos 40, se fosse, poderia começar a rever seus conceitos.  

Surgiu então, uma viagem para Ibiza com a turma. Nesse momento Morgana acreditou que Fred desistiria de continuar vendo-a, mas foi surpreendida com um convite para acompanhá-lo. Decidiu aceitar e resolveu que seria lá, em Ibiza, que tiraria a prova dos nove. Acabaria com o joguinho de sedução e teria a certeza se ele realmente a queria e estava disposto a assumi-la.

Embarcaram. Na primeira noite em Ibiza, cansados, apenas dormiram. Foi na segunda noite que tudo aconteceu.

Durante o dia ficaram na praia curtindo o mar, o sol, a sombra dos imensos guarda-sóis e os mais saborosos drinques: cosmopolitans, margaritas, caipirinhas, espumantes... Como se tivessem em uma lua-de-mel trocaram carícias o tempo todo, beijos, abraços, chamegos, tudo testemunhado pelos amigos de Fred, que nem reconheciam o garanhão da turma, tão envolvido por Morgana parecia estar.

À noite foram à uma festa, mas ficaram pouco. Estavam ansiosos pelo momento tão esperado.

O quarto estava especialmente preparado para uma noite de amor intensa: cortinas brancas, lençóis dourados, velas aromáticas suaves, música sensual baixinha, a champanhe no ponto e o perfume inebriante de Morgana inundando todo o ambiente, transformavam o momento meticulosamente pensado por Fred em algo nada menos que perfeito.

Quando Morgana começou a tirar seu vestido de alça grená de paetês modelo sereia, Fred com a camisa branca de manga comprida, aberta até a barriga ainda por dentro da calça, ajoelhou-se diante dela com ar de veneração. O coração de Morgana palpitava descompassadamente como uma adolescente virgem, afinal era preciso muita coragem para fazer o que ela estava prestes a fazer. Só de lingerie preta, Morgana começou a ter seus pés beijados por Fred, ainda calçados na sandália de tiras com strass, salto 15. Ele estava em êxtase. Ela afastou-se um passo pra trás e tirou o sutiã. Fred soltou um suspiro de prazer ao contemplar os seios de sua sereia. O pau já latejava dentro da calça, Morgana podia ver. Finalmente tirou a calcinha e quando Fred viu o que tanto esperava soltou um ganido de horror. No lugar de uma vagina, um pênis, meio mole, meio amassado, mas com certeza um pênis!

Fred fechou os olhos, esfregou-o com as mãos, tornou a abri-los. Teve náuseas, ânsia de vômito, até conseguir pronunciar:

"mas o que é isso? que porra de caralho é esse?!"

"é isso mesmo garanhão, por fora eu não sou exatamente como você pensava que eu fosse. Vai encarar ou vai correr?"

Morgana queria que o momento fosse envolto em romantismo e compreensão, mas conhecendo Fred como ele era, não conseguiu evitar um tom irônico e debochado. Homens como Fred mereciam uma lição de vez em quando, por mais dura que fosse e mesmo ela estando quase apaixonada.

Sentindo-se enganado, enojado e revoltado, Fred partiu pra cima de Morgana. O que ele também não sabia é que ela era exímia lutadora de artes marciais. Lhe aplicou um golpe e o deixou no chão, rastejando, arrasado e chorando feito um bebê.

Morgana vestiu-se novamente, pegou sua clutch e quando virou em direção à porta ouviu os lamentos de Fred:

"por que, por que, por que? por que eu? por que você não me contou antes? por que?"

Morgana nem se deu ao trabalho de responder.

"espera. Onde você vai essa hora? Sozinha?"

"vou alugar um outro quarto pra passar essa noite e você vai pagar, porque se não seus amiguinhos vão saber tudo o que aconteceu aqui essa noite e eu tenho certeza que você não quer isso."

"não, por favor não! Pode alugar, aluga o quarto que você quiser!"

Morgana deu às costas e se foi.

Fred ficou ali, caído no chão em prantos, com vontade de pedir que Morgana ficasse, afinal ela era sua sereia, ele só não imaginava que a cauda estivesse tão bem escondida.