segunda-feira, 28 de abril de 2014

HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO


É daqueles filmes que ficam reverberando na sua mente dias e dias depois de assistido. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é tudo o que já disseram e mais um pouco. Cada um tem sua visão particular das histórias que assiste, lê e ouve, e a minha visão particular do longa de Daniel Ribeiro é esse "mais um pouco" de tudo o que já foi dito à respeito da história sutil, delicada e fofa de Leonardo e Gabriel. 

É simples, é uma extensão do curta lindíssimo de 4 anos atrás, mas me deixou tão comovido e enternecido como se fosse uma história de amor entre iguais inédita, e não é. Tantas outras já foram feitas e assistidas e já me comoveram também. Mas Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, teve um gosto diferente. Talvez a doçura imprimida na história, a descoberta do primeiro amor, a deficiência visual de um dos pares, a identificação.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é leve e profundo. Podemos olhar apenas pelo ângulo da graça, da fofura, mas durante a projeção quem para pra se imaginar no lugar de Leonardo? Nascer cego, não saber nem como é seu próprio rosto. Dizem que é mais fácil assim lidar com a cegueira, quando se nasce com ela, mas de qualquer forma, não deve ser bolinho, enxergar só escuridão ou claridade aonde todos à sua volta enxergam em cores. Difícil não se sentir perdido.

Aí seu corpo começa a mudar, seus hormônios afloram e você começa a sentir coisas que antes desconhecia, e então uma nova voz, diferente de todas aquelas que você está acostumado, surge na sua vida e começa a preencher o ar que te rodeia de uma expectativa nova, pulsante, ascendente. Não existe imagens, só vozes, sons, cheiros, projeções, expectativa e muita imaginação. 

Como é de verdade, afinal, ser um adolescente, gay e cego? Impossível afirmar com certeza, a não ser que você seja ou tenha sido. Então, pra não tornar a experiência cinematográfica um suplício nesse exercício de imaginação, relaxamos e nos deixamos levar pela história bonitinha de amor sem reservas de Léo e Ga.

Gabriel faz com que Leonardo, mais do que enxergar, sinta as emoções. Ao andar de bicicleta, ao dançar e até mesmo assistir a um eclipse lunar. E então é inevitável, Léo se apaixona por Gabriel, pelo tempo e atenção dedicados a ele, Gabriel se apaixona por Léo, pela fragilidade e esse jeito de quem sempre precisa ser conduzido por alguém pra conhecer coisas prosaicas como um eclipse lunar, e nós nos apaixonamos pelos dois. Mas não só pelos dois, por Giovana também. Aquela amiga especial e muito bacana, que todos nós já tivemos um dia e nutre um amor platônico pelo melhor amigo, Léo. Quem nunca?

É justamente nesse amor de Giovana por Léo, talvez ainda mais sublime que o de Gabriel, que rolou minha maior identificação. Todos celebram e se empolgam com o romance meigo que nasce entre os meninos, mas quem se coloca no lugar de Giovana, que conhece Léo da vida toda e que guardou um sentimento maior por ele durante sabe-se lá quanto tempo, esperando o momento certo de se abrir? De repente aparece Gabriel, tornando-a quase que indispensável na vida de Léo, fazendo-o descobrir-se gay e ainda despertando um amor irremediável em seu melhor amigo, fazendo-a sentir que todos os anos de amizade e dedicação foram insignificantes. A tristeza e o sofrimento de Giovana, bem como sua libertação e independência de Léo dariam um outro longa, tão ou mais interessante quanto este, mas o foco aqui é a história de amor de Léo e Ga. Ainda assim, não consegui me colocar no lugar de nenhum dos protagonistas, mas sim, no de Gi. Já passei por muitos sentimentos platônicos na minha vida, e sei o sabor nada doce que é. Enfim, Giovana arrasa e rouba boas cenas com seu jeito esquivo e seu charme natural.

No fim, embalado por uma trilha feita pra te fazer suspirar e sonhar com a pureza de um amor sincero, saio do cinema lamentando em discretas lágrimas o primeiro amor que não tive e com esperanças que ele um dia vai chegar. 

domingo, 6 de abril de 2014

365 DIAS


O Blogue de cara nova, comemorando hoje um ano do Meu Pequeno Pantuflee!

E que venham mais 365 dias e muita inspiração!

terça-feira, 1 de abril de 2014

FILMES QUE AMO: "LONGE DO PARAÍSO" #01


Depois de mais de um ano sem postagens sobre os filmes que marcaram minha vida (quem me acompanha desde o BORBOLETAS NA JANELA sabe que eu mantinha lá, uma coluna chamada "Os Filmes da Minha Vida"), retorno hoje a falar de um assunto que adoro: minha paixão pela sétima arte e os filmes do meu coração. Tudo continua igual, a única mudança foi o título da coluna, que agora passa a se chamar "Filmes Que Amo" .

E, pra inaugurar a coluna com chave de ouro, agora no Meu Pequeno Pantuflee, um título especial: Longe do Paraíso.

O filme de 2002, dirigido por Todd Haynes (Não Estou Lá - 2007 / Velvet Goldmine - 1998) é um drama de época com uma produção impecável e de extrema sensibilidade. Com Julianne Moore, Dennis Quaid e Dennis Haysbert, encabeçando o elenco principal.

Acompanhamos a história de Cathy Whitaker, que nos anos dourados da década de 50, juntamente com o marido Frank e os filhos formava uma família perfeita da alta sociedade americana. Sem muitas preocupações aparentes, a vida de Cathy se resume a cuidar dos afazeres do lar, das crianças, estar sempre bela em glamourosos vestidos e envolvida em eventos sociais. Sempre impecável e exalando um ar de elegância e felicidade conjugal, é admirada e tomada como exemplo por amigas e vizinhas.

Mas o mundo de Cathy desmorona quando o que parecia perfeito é desvelado, ao descobrir que seu amado marido mantem relações extra-conjugais com outros homens. À princípio, brutalmente chocada, Cathy sofre, mas não condena o marido, compassiva, aceita e tenta entender quando ele pede que ela não o abandone e explica que precisa de tratamento, porque é doente. Apaixonada, mas também com medo de ser apontada como uma mulher divorciada, ela decide ajudar o marido a buscar um tratamento.

Sempre compreensiva e paciente, Cathy acredita que o marido vai se "curar" e voltar a ser como antes. Mas conforme o tempo passa, o próprio Frank percebe que nada muda e ao se apaixonar por outro homem, abandona Cathy, deixando-a sem chão.

Sozinha na enorme casa com os filhos, Cathy fica reclusa por um tempo, tentando evitar falatórios e julgamentos, mas quando resolve voltar a se envolver com seus eventos sociais beneficentes, sente na pele o preconceito daquelas que antes a admiravam e julgavam amigas. Todas se afastam, rejeitando-a como uma leprosa.

Arrasada e sem rumo, Cathy encontra em Raymond Deagan, um forte e belo jardineiro, uma nova razão pra ser feliz. Negro e pobre ele, assim como ela, é alvo de grandes preconceitos. Entre uma e outra manutenção em seu jardim, Cathy se vê atraída ao gentil e simpático homem, ela sente empatia por ele, e os dois se tornam bons amigos.

Raymond leva Cathy pra conhecer seu mundo e proporciona à ela momentos com os quais nunca sonhou, trazendo de volta ao seu semblante triste, o sorriso. Não demora muito e os dois se veem apaixonados. Mas será que Cathy está preparada para viver esse amor inter-racial numa sociedade tão hipócrita e preconceituosa?

O filme tem um desfecho que nos deixa com um nó na garganta.

Juliane Moore está perfeita, concorreu por esse filme ao Oscar de melhor atriz, sua interpretação é sutil e sublime. Dennis Quaid também está em seu melhor momento, sexy e convincente. E Dennis Haysbert é um tesão de homem, charmoso, delicado e exalando virilidade. Os figurinos são um deslumbramento, assim como a fotografia. Tudo nesse filme é maravilhoso e arrasador. Um filme digno de ser amado!