terça-feira, 17 de junho de 2014

TEATRO: VÊNUS EM VISOM


Em cartaz entre 28 de março e 08 de junho, no teatro Vivo em São Paulo, a peça Vênus em Visom teve uma sessão extra especial dia 11/06 com entrada franca no Itaú Cultural, e eu tive o privilégio de poder conferir a montagem paulista desse excelente espetáculo.

Protagonizado pela dupla Bárbara Paz e André Garolli e dirigido por Hector Babenco, em sua segunda parceria com a ex-mulher nos palcos (a primeira foi a peça Hell de 2011), Vênus em Visom é uma comédia com doses de erotismo.

O espetáculo escrito pelo dramaturgo americano David Ives e traduzido por Danielle Ávila Small, traz Bárbara Paz no papel de uma jovem atriz que almeja interpretar Wanda, a protagonista de "Vênus em Visom" - adaptação do texto de Leopold Ritter Von Sacher-Masoch (1836 - 1895), autor que deu origem ao termo masoquismo.

No dia do teste de elenco, porém, Thomas Novacheck (André Garolli), o diretor que a avalia, diz que ela não tem perfil para viver a personagem. Para convencê-lo do contrário, a atriz inicia um jogo de sedução, marcado por cenas cômicas e doses de erotismo. 

A montagem é uma metalinguagem de teatro, uma peça dentro da peça e é sensacional. O texto é riquíssimo, cheio de nuances que possibilitam aos atores performances excepcionais. Bárbara, que dispensa apresentações, está fabulosa em cena, mostrando uma versatilidade nunca vista antes na TV. Sua veia cômica grita no palco, arrancando gargalhadas febris da platéia, sem nunca perder a extrema sensualidade, também muito presente em cena, atingindo seu ápice no momento em que exibe seus fartos e belos seios.

Já André Garolli, ator menos conhecido da TV - que participou com personagens de certa importância na minissérie Cinquentinha e no seriado Lara com Z (ambos de Aguinaldo Silva) e também esteve em Amor à Vida como o médico Vinícius, papel irrelevante em meio a tantos personagens sem destaque na trama - poderia facilmente ser engolido pela ferocidade de Bárbara em cena, mas também está ótimo.

Travestida com muita sensualidade e doses cavalares de humor, Vênus em Visom te conduz de maneira a pensar que é tudo uma grande diversão, para no final e, somente no final, com a sarcástica última fala dita por sua protagonista nos lançar num abismo de profunda reflexão.

Com sonoplastia e iluminação perfeitas e indicações ao Prêmio Shell e ao Prêmio APTR de melhor atriz, Vênus em Visom é um espetáculo impecável, que com certeza voltará em cartaz em breve e quando isso acontecer não perca a oportunidade de conferi-la.


Pra finalizar, transcrevo as palavras do diretor Hector Babenco:

"Quando penso na VÊNUS vem imediatamente na minha memória todas as vezes que eu fui um outro que eu inventei. Há nessa vivência uma euforia alegre e descompromissada que nasce no momento que sinto que o outro foi enganado pela minha mentira. O que me faz grande e distante do comportamento da plebe. Sem raízes psicológicas nem armadilhas racionais. A mentira que é a semente do impostor é a energia que concebeu esta VÊNUS. Nela estão embutidos uma base de chanchada, uma pitada de Moliere, bastante Freud, um pouco de transexualismo, uma colher grande de sadomasoquismo, enfim. Amor, castigo, humilhação, tudo aquilo que fazem dessa receita uma bela refeição."